Cousa: Schfrütz

Eis aqui um blog em que um ser propõe um título a ser preenchido pelo outro ser.

sábado, fevereiro 03, 2007

O Encontro



Sofrer é ver-se limitado depois de extenuar-se tentando vencer a causa daquilo que comumente se chama sofrimento. As pessoas chamam sofrimento o ato de estarem voluntariamente (por omissão) presas a uma limitação. Os ditos sofrimentos são transponíveis, e sua transposição só depende de uma necessidade real de liberdade que arrebata e não dá margem a preguiças ou justificativas. Deste dito sofrimento, só sofrem os que não anseiam verdadeiramente por liberdade, e estes são muitos. Os que sofrem genuinamente, os que sofrem o sofrimento autêntico, sofrem pela única causa justa (ou pela única causa autêntica, uma vez que a justiça pode encarcerar): a liberdade. Ser louco é estar preso, e quase todos estamos. A pior das loucuras é não buscar instintivamente a liberdade. Não a que termina onde começa a do outro (distância, medida e limite), mas a que pode ser vivida por todos para todos os lados e de todas as formas sem provocar prejuízos porque só pode ser vivida coletivamente; não também a liberdade egoísta na qual me imagino livre para matar, desconsiderar e menosprezar e assim subir degraus de pedra dentro do meu aquário pessoal esperando ver no alto a felicidade, a sabedoria, a auto-afirmação ou qualquer outra invenção, só para constatar que, se a subida tiver fim, ao topo não haverá nada além de loucura, loucura e solidão. A liberdade de que falo é a que em frestas da nossa realidade irrompe e exige de nós certas coisas que não faríamos normalmente. Neste sentido ser verdadeiramente livre é submeter-se a algo que nos ultrapassa (ou ultrapassa, intransitivo). Só somos verdadeiramente livres nos momentos em que fazemos algo por nos vermos, impotentes, impelidos a fazê-lo, a fazer algo que jamais faríamos em sã consciência. Destes lampejos de liberdade nascem amores e obras de arte; finda a noite ou emoldurada a obra, cá estamos de novo terrivelmente atados e sofrendo o falso sofrimento, inconscientemente ávidos da próxima fresta de liberdade.

Basta-nos?

***


Eu terminara aí meu malabarismo filosófico e dirigia a Heitor um olhar misto de indagação e chiste. O olhar que ele devolvia me divertia. Gosto de Heitor porque ele jamais me intimida; me admira e ouve calado, não tem crítica, o que faz dele um ótimo e seguro depósito para minhas verborragias. Eu poderia ter continuado: não, não nos basta, mas o limite máximo da hipocrisia seria quebrado e um pouco de dignidade precisa ser mantida; além disso, a pergunta quase retórica certamente o levaria a esta conclusão, que talvez em suas entranhas não fosse tanto uma hipocrisia quanto nas minhas. Porque veja, não chega a ser uma mentira, mas de que vale uma verdade quando ela não provoca uma ação? A princípio me desconcertava perceber que conclusões tão contundentes não provocavam automaticamente uma mudança de hábitos, mas aos poucos me acostumei a dizer que a única busca digna é a por liberdade e seguir buscando reconhecimento, conforto, café. Parecer elevado, quase abnegado, ascético, ao afirmar enfaticamente minhas conclusões: que outro embasamento pode haver? Explicações só são válidas se nos fazem mais livres, toda busca que não por liberdade será enterrada com aquele que nela se empenhou. Dizia eu, como que num púlpito ou palanque. Admiravam meu comprometimento, meu desapego. Consegui muitas mulheres assim. Inclusive uma freira.

O que Heitor, as mulheres e os outros não vêem é que nos acostumamos tanto a não ser livres que só do interior do nosso cárcere fomos capazes de detectar a prisão. E, como se sabe, não basta saber da existência das grades, apalpá-las longamente, pintá-las de laranja. Não nos livra. Mesmo os que constatam que o que perdemos foi afinal a liberdade e que buscá-la é a única forma de realmente viver não são capazes de seguir suas próprias advertências. Não porque não tenham meios: todos temos. Mas já não temos vontade. Tanto nosso cárcere embotou nossa vontade que já não temos impulso para romper grades. O impulso, aquilo que podemos e sabemos que devemos buscar, depende de si mesmo para ser encontrado. E, como não há, não há.

Então talvez eu seja menos hipócrita do que Heitor. Ou menos burro. Ele ou não é inteligente o suficiente para chegar a essa conclusão cabal ou não tem a coragem de admiti-la para si e também publicamente. Mas minha verborragia deteve-se no “Basta-nos?”. Até aí soei como um herói, talvez o último. Das implicações posteriores nada contei a Heitor. Ante a frase final, ele me lançou um movimento de pescoço e tomou um gole do café sem tirar os olhos de mim – respeito, admiração, talvez alguma subordinação? Ou quem sabe eu lhe parecia ser uma aberração enjaulada?

***


- Pensei naquilo que você disse sobre a liberdade.
- Hm.
- Eu conheci uma mulher.
- E?
- Não trocamos uma palavra, mas num certo momento olhei para seu corpo sem distinguir olhos, seios, boca, e houve um impulso.
- Sempre há, Heitor. É a coisa mais antiga do mundo.
- Não! Quero dizer, é a coisa mais antiga do mundo, mas só quando é assim, de verdade. Sem licença poética: o seu corpo era uno, o impulso levou minha mão até ele, o toque borrou algum limite e isso era a liberdade.
- Como ela chama?
- Não sei.
- Hm.
- Não importa.
- Ia falar: “Peça fulana em casamento.”
- Não é assim.
- Se essa mulher lhe deu a liberdade, Heitor! É a única busca digna, não é? Não é o que você quer? Ou é pavor de monogamia?
- Não é assim. Não combinamos os encontros: vimos-nos fortuitamente, duas vezes. Na primeira eu a segui sem saber porquê mas com a certeza do seu consentimento. Passamos a noite juntos, num hotel; na manhã seguinte saí enquanto dormia, sem fazer barulho, ainda com a impressão da liberdade que havia se configurado. Tive a impressão de que, caso a acordasse, a experiência se desvalidaria. Pensei que não mais a veria. No entanto, nos cruzamos novamente; eu a avistei de longe, na rua, e percebi que ela também havia me visto. Andamos sem afetação um em direção ao outro e, no mesmo instante, paramos, com os rostos quase colados. Desta vez ela me seguiu, mas levá-la até minha casa parecia um erro, um solvente. Fomos para outro hotel e novamente tive este contato com a liberdade de que falo. Percebe? Agora sinto que é possível que nos vejamos novamente sob circunstâncias parecidas, e esta esperança, ainda que não se concretize, é melhor do que qualquer busca ativa ou tentativa de oficialização. Seria um cárcere, e todo cárcere dilui – será que a liberdade não é a vida concentrada?
- Você é um romântico, Heitor.

***


Heitor provavelmente delira ou é muito ingênuo. Não me surpreenderia que esta mulher o procurasse para um terceiro encontro e lhe apresentasse uma conta pelos serviços prestados. Pobre Heitor; se o que contou de fato se deu, ele decerto vê mais do que realmente há. Até que ponto a auto-sugestão pode influenciar um homem! Se não tivesse na mente tudo o que lhe disse, e que lhe pareceu tão belo (talvez uma saída, uma explicação), veria que esta Afrodite não pode existir. O cárcere é coletivo. Ela só pode ter motivos de dentro do cárcere. Dinheiro, sexo? Ou busca dentro do cárcere uma solução para sua solidão que consiste justamente em estar encarcerada? Neste caso, ambos se iludem na liberdade que momentaneamente alcançaram. Ela não se sustenta nesta prisão, porque aqui se busca a estabilidade e o conforto controle-remoto de ter tudo à mão. Eles hão de querer deixar de depender de encontros fortuitos para alcançar esta liberdade. E a partir do momento em que começarem a buscar-se mutuamente, ainda que apenas passando a vagar sem rumo por mais tempo, na esperança de um encontro, terão se trancado cada qual em sua cela e, por mais que de fato talvez se amem e não cheguem a contrair matrimônio ou mesmo a saber o nome um do outro, só poderão acenar por entre as grades e aí nada disso fará sentido. No fundo é um beco sem saída.

***


- Será que a liberdade não é a vida concentrada?

Já pensei que a liberdade era a morte. Se nesta vida estamos condenados à solitária, é apenas lógico concluir que a antítese da vida é a antítese do cárcere: a morte é a liberdade. Por isso a afirmação de Heitor me pareceu a princípio tão absurda e romântica. Mas agora, que não consigo dormir pensando em Heitor e na liberdade, penso que não poderia fazer mais sentido: a morte é a vida concentrada. Convenhamos: estas coisas que discernimos e com as quais convivemos não merecem o título de vida. O escritório, fazer a cama, Coca-Cola... só chamamos a vida de vida porque a estes elementos somam-se outros que fazem com que não seja heresia dar ao conjunto o nome de vida. Mas é vida esparsa: a maioria dos elementos é banal e clara demais, pentear os cabelos, discutir idéias, fazer contas. Tudo muito fácil de ser manejado. A vida não valeria a pena se tudo estivesse assim Coca-Cola, sob nossa égide. Vivemos porque de tempos em tempos algo nos arrebata, algum milagre se dá, somos capazes de olhar para um gato e nos sentir irmanados. Às vezes no sexo não sabemos quais são os limites do nosso corpo. Às vezes uma paisagem deixa de ser tema para uma natureza-morta e se faz viva, em sua harmonia de movimentos e em sua coordenada placidez, e às vezes podemos senti-lo ainda que apenas por um momento. Sem isso, suicídio na certa. No entanto, nestes momentos de vida intensa já não somos indivíduos, sujeitos, eixos-do-mundo: a vida se intensifica à medida que nos apagamos. Apagar-se definitivamente é morrer. A vida intensa, que é a liberdade, é a morte.

***


- Vimo-nos novamente.
- Quem?
- Eu e ela.
- Ah.
- Do outro lado da cidade, em extremos opostos de um vagão de metrô. Nossos olhares se cruzaram e sem premeditar desci na estação seguinte. Ela fez o mesmo. Fomos novamente para um hotel, despimo-nos e adormecemos imediatamente um nos braços do outro. Sem sexo. Tive sonhos imagéticos, povoados por seres fantásticos. Quando acordei, ela já não estava lá.
- Você ainda vai me convencer de que não imagina esta mulher.
- Tenho certeza. É o que de mais real já vi.
- Os hotéis têm um papel importante nesta sua cruzada pela liberdade, hã, Heitor...?
- São terreno neutro e anônimo. Nenhuma particularidade pregada na parede, estendida no chão ou exposta em porta-retratos.
- Sei.
- ... Acho que é isso que é amor.
- Encontros fortuitos com uma estranha em hotéis sujos.
- Não, essa vida concentrada. Essa liberdade é o amor.

***


Se é certo que todo ser humano busca o amor, então as esperanças não estão tão perdidas. Estamos todos engajados nesta busca digna pela liberdade. Mas se esta liberdade é, em última instância, a morte, que sentido faz permanecermos vivos? Se a morte é a vida concentrada, porque devemos nos contentar com os raros momentos dela em meio à prisão que é estar vivo? Talvez estar preso seja condição para vivenciar esta liberdade. Doses diárias e efêmeras da morte, que só se torna objetivo e prazer por contraste. Não fôssemos tão auto-centrados, tão racionais, tão solitários, de nada valeria o amor, essa liberdade. Não se trata de buscar a morte, querer a morte. Suicídio não muda nada. Já o amor, essa morte homeopática, é uma resistência, quase uma declaração, talvez a única rebeldia justificável. Manter-se voluntariamente encarcerado para poder tirar prazer dos raros momentos de liberdade que, não fosse o cárcere, seria contínua e portanto dissolução total, silêncio, escuridão, nada. Compreendo porque Heitor se mantém vivo. Quer esta mulher exista como ele relata, quer seja fruto de auto-sugestão, tornou-se sua porta para esta resistência final. Heitor não é, afinal, burro ou hipócrita. Talvez não tenha percorrido o caminho intelectual que leva a esta (quase) absurda constatação, mas ele já sabe (sente?) que este amor é necessário porque é uma investida contra o cárcere. Estar morto não mereceria adjetivos. Amar como forma de resistência é belo. E é também uma esperança, talvez a última, não sei de quê.

***


- Continuamos nos encontrando por obra do acaso. É sobrenatural. Fico com a impressão de que basta querer. Não como nos filmes de fadas: fechar os olhos e repetir o desejo... querer mesmo, sem que seja preciso pensar naquilo que se quer. É só quando nos encontramos que me dou conta, semiconsciente, do quanto desejava vê-la.
- Vou tentar nas horas vagas.
- Sei. Se quiser eu paro de falar. Não adianta querer diálogo e troca quando existe uma barreira de sarcasmo.
- Não me leve a sério, Heitor. Estou só brincando com você.
- Você acha que eu sou ingênuo.
- Não.
- E que a solução que eu encontrei para o seu problema do cárcere é insuficiente.
- Não! Heitor.
- E que a mulher é uma invenção.
- Heitor, não. Desculpe. Eu caçôo por hábito. É parte do meu cárcere. Eu acredito. Eu acredito.
- Eu quase não acredito.
- Como?
- Não me lembro da sua aparência. Às vezes penso estar ficando louco. Mas talvez a loucura seja uma forma de liberdade.
- ...
- ...
- Heitor, loucos somos os encarcerados. A sua loucura é certa.
- E se eu inventei esta mulher?
- A sua loucura é certa.

***


Caídas as máscaras, a verdade é que agora o invejo. Em alguma porção podre de mim, sinto-me roubado e traído. Não fosse minha verborragia sobre a liberdade, este processo ou coisa que o valha não teria se desencadeado em Heitor. É certo que ele encontrou o amor sem barreiras e a liberdade (temporários, pois é assim que os queremos, que precisamos deles)? Se sim, isso é dado a todos os homens? O que me impede de vagar sem buscar nada e conquistar sem palavras o amor, a liberdade, um pouco da morte que me livraria do cárcere de mim mesmo? Penso que duvido demais, embora agora acredite totalmente em Heitor. Esta dúvida talvez não seja dúvida: talvez seja a expressão racional de um desejo terrível.

***


- Diverti-me muito. Há muito tempo não tinha uma conversa tão séria com alguém, e ainda assim me diverti.

Marcela sorria e me dirigia um olhar semelhante ao que Heitor me dirigira após me ouvir falar sobre as mesmas coisas. A diferença é que Heitor estava do outro lado de uma mesa num café; os olhos de Marcela estavam a poucos centímetros dos meus, ela em frente à porta de sua casa e eu um degrau abaixo, após um longo jantar regado a vinho e à verborragia que sempre, sempre funciona. O prazer sempre renovado de parecer profundo e autêntico ainda que às custas de fazê-lo diante de um completo estranho. Marcela e eu havíamos nos conhecido poucas horas antes, fruto de uma abordagem calculada de minha parte, numa praça, ao pôr-do-sol.

Marcela já me beijava devotamente.

- Vem, entra.

Subi com ela, quase puxado por sua mão tão delicada e decidida, uma longa escadaria de madeira escura. No final do corredor, dobramos à direita e entramos em seu quarto. Cama milimetricamente arrumada, móveis coordenados, um perfume delicioso.

Marcela é linda. O cabelo longo de um castanho quase comestível brinca de esconder seu rosto, seus ombros, seu colo. Grandes olhos negros percorrem meu rosto, lábios finos e um pouco precipitados buscam os meus. Dedos longos terminam em unhas curtas e delicadas que ela desliza vagarosamente sobre minha pele. Marcela é linda e me envolve inexoravelmente na sua coreografia.

Deitamo-nos. Ela me posiciona, me beija ternamente, sorri, se posiciona e dá continuidade ao programa, maestrina virtuosa. A orquestra, boa orquestra, obedece. Fecho os olhos: some o quarto, estou em uma sala de concertos muito etérea. Marcela regendo como uma dançarina do ventre. Envolve-me, no compasso. Soam os metais, pianissimo. Lembro-me de Heitor, que adora concertos. Tchaikovsky. O ombro de Marcela cheira a canela e mel; envolvo sua cintura. Inveja, inveja de Heitor e de sua liberdade. Como pode, como pode ter gostado de concertos? Agora ouve e acompanha outro canto, sem partituras. Marcela, seus dedos longos envolvendo minha nuca, o corpo em arco: é linda, ótima, grande artífice. Entrego-me. Já Heitor se entrega à terra úmida, a um fruto misterioso, a um lago plácido. Soam os metais: mezzo-forte. Marcela e sua batuta; movimentos precisos. Penso, e recuso como um vômito: algum crítico diria que lhe falta alma. Ela soube até compassar sua respiração à minha. Seus lábios, quase colados aos meus, soltam ritmadamente um ar quente e úmido, canela e mel. Onde estará Heitor? Quero perguntar: como cheira a sua liberdade? Esta mulher, como cheira? Como respira? Como se chama? Marcela, soam os metais: forte. Não se apresse. Não preciso dizer-lhe: mestre na sua arte, Marcela. Movimentos suaves da batuta em sua mão. Um mover de olhos negros por trás do véu. Maestrina odalisca, Marcela, corpo úmido de suor, mãos firmes, os cabelos em meu rosto são uma tenda – canela e mel. Heitor! Como é a sua mulher? Que cheiro ela tem? Que tem ela que se faz porta para a liberdade, a morte? Como se chama? Marcela, hábil, hábil dançarina, é isso o amor? É decerto uma bela representação, que espetáculo, Marcela. Heitor, você tem que ver esta mulher, Heitor. Que cheiro tem? Soam os metais: fortissimo, já se avizinha o fim do concerto, como chama a sua mulher? Marcela, todo o corpo envolvido no movimento final, maestrina hábil, odalisca, artífice! Heitor, eu o invejo; que cheiro tem sua mulher? Como chama? Marcela, canela e mel.

***


- As coisas não são fáceis. Fui burro ao ser otimista e esperançoso.
- Que há?
- Não a vi mais. Lembro ocasionalmente do quanto quero vê-la, mas não a procuro. Sei que este mundo é fruto do meu desejo. Ela talvez também o fosse. Se não vem mais, sinal de que meu desejo enfraqueceu? Sei que a desejo, mas pouco ou nada vale saber desejar algo ou alguém. Só sei que não a tenho visto.
- A coincidência e o acaso não são regidos por leis estatísticas, Heitor. Foi suficientemente inacreditável que vocês tenham se encontrado tantas vezes. Não se sujeitar ao tempo do acaso, se é que você pretende esperar, seria colocar novos cadeados no cárcere.
- A questão não é essa. Sinto que algo não está certo. É claro que sob um ponto de vista lógico eu sei que não deveria esperar revê-la. Mas a sensação nada tem a ver com a demora, o calendário. Algo não está certo.
- Por que entramos aqui, Heitor?
- Não sei. Não sei. Rápido, essa escada lateral. Assim não nos vêem.
- Heitor, o que é isso, aonde vamos?
- Ali, ali, aquela porta à esquerda. Algo não está certo. Abra a porta, eu não posso.
- Precisamos sair daqui.
- Abra a porta, por favor, por favor. Está destrancada, eu sei.

***


Um quarto sujo de hotel, uma mulher estendida na cama, os cabelos castanhos bagunçados sobre seu rosto, ombros, colo. Braços e pernas como se dançasse, suave. Nos dedos finos terminando em unhas curtas, um revólver. Sob a cabeça, um travesseiro empapado de sangue. No ar, cheiro de canela e mel.

- Marcela!

Heitor, pálido:

- É ela.

---

Texto fresco, escrito nesta madrugada. Primeira versão total. Mas taí.

Só agora vi que faz meses que apareceu a sugestão de título! E ficou como o meu plano de fundo esse tempo todo. Cheguei a escrever um outro O Encontro, mas era realmente péssimo. Enfim, antes tarde!

Por mim continuamos com a sugestão de títulos. Se não, conversamos depois. De toda forma: o próximo deve ser chamar A Escola de Caligrafia do Sr. Bastos. Um pouco de humor nessa vida, será? :)